sábado, 6 de março de 2004

DVD - 4 "GENTE DE OUTROS TEMPOS.".

PENAFIEL ANOS 50!


   Os anos 50 foram marcados por grandes avanços científicos, tecnológicos, mudanças culturais e comportamentais. Foi a década em que começaram as transmissões de televisão, provocando uma grande mudança nos meios de comunicação. Terminavam anos de guerra e do racionamento. A mulher dos anos 50 tornou-se mais feminina, metros e metros de tecido eram gastos para confeccionar um vestido, bem amplo e na altura dos tornozelos. No entanto, nem todos podiam gozar desse privilégio, nas aldeias e cidades afastadas dos grandes centros viviam-se grandes dificuldades Neste contexto faz-se então a narrativa. Construída através das pequenas e grandes viagens de múltiplas pessoas e suas inusitadas e criativas relações entre tempo e espaço, um olhar desprendido, mas não isento de intenção, que coloca em primeiro lugar a profissão, deixa que a lógica das quantias e quantidades ou a mensuração de índices económicos não sejam os determinantes, mas que venham acompanhar um certo modo de ver e contar a história de um povo e de uma terra.Trajectos quotidianamente planeados e executados definem maneiras de acordar, arrumar cestos, inventar pregões.
 
    Mas, afinal, quem são eles?
    Os “vendedores ambulantes” impõem uma leitura diferenciada. A condição de passagem sugerem um lugar incerto, nem sempre fácil de ser apreendido e compreendido; mas é esse ir e vir que lhes fixa a imagem e lhes define a identidade.
   Se toda profissão exige regularidade, a deles é preparar-se para imprevistos de toda sorte e ao longo da história, misturam-se as famílias que se deslocavam de uma freguesia à outra. 
   Associavam-se facilmente, e com bastante pertinência, a imagens dos nómadas e migrantes. Em maior ou menor grau, contribuem para a expressão espacial de modos de viver e também de morrer, já que a maioria desse contingente humano dedica-se a uma actividade sujeita a grandes riscos.



    Quem é pobre, a pouco se apega e o galinheiro era nos anos 50, uma profissão nobre.

   No entanto nem um qualquer criava galinhas para vender. Mas o galinheiro usava essa profissão para ganhar dinheiro.



“Olha a galinha!”.



    Em meio a grupos e populações com forte tradição de nomadismo, localizam-se ambulantes como a sardinheira. Havia a mais diversidade de ambulantes que exigiam cautela no emprego, da categoria de forma satisfatória há muita descontinuidade, nas diferentes trajectórias.
    As excedentes de mão-de-obra do campo chegam na cidade, onde exerciam trabalhos manuais não especializados e muitos tentavam novas profissões.
Os pregoeiros constituíam uma categoria especial, pela maneira quase poética de anunciar os produtos. Faziam do comércio de rua uma fonte de renda e nada como criar um atractivo a mais, com frases típicas e versos para ajudar na venda.
    Passavam, num passo cadenciado, procurando distribuir melhor o peso, cantando o seu pregão:

“Sardinha chegada agora.... tá fresquinha... olha que beleza, não quer comprar, freguesa...”.




Eram profissões que envolviam deslocamento permanente, retiravam de quem as exercia uma identidade adequada a padrões, valorizados pelos mais abastados.
    O moleiro, era um profissional especializado que tinha uma grande importância na vida e na economia, das sociedades tradicionais rurais e urbanas, era também uma personagem característica nas aldeias, acompanhava a pé o burro que carregava farinha, proveniente dos moinhos.
    Existiam algumas considerações sociais de valor negativo em relação ao seu ofício, cuja relevância se manteve acentuada enquanto os moinhos foram o meio preferencial de produção da farinha necessária ao fabrico do pão, que então era a base da dieta alimentar das referidas sociedades.
Apesar de necessitarem de um caudal de água para o seu funcionamento, por uma multiplicidade de factores naturais sociais e económicos, na moagem em moinhos junto aos rios era frequente situações anómalas, que se prendiam com Invernos rigorosos deixando famílias sem farinha para cozer o pão.
      A existência de inúmeros cursos de água com um acentuado desnível e sujeitos a cheias, assim como o facto de em muitas regiões do país, os moinhos serem colectivos ou de proprietários que cediam aos seus vizinhos o direito de moer mediante o pagamento de uma percentagem em farinha, fez com que esta profissão perdura-se. No entanto, isso em nada favoreceu a introdução de melhoramentos mecânicos com vista ao aumento de produção.





Deus te salve, se não fosse pelas contas que tenho a dar, nem um saco ao dono havia de mandar.


     Um trabalho característico nas aldeias eram o trabalho de Tanoeiro. Os instrumentos de trabalho dos tanoeiros são a enxó a raspadeira, além do banco, utensílio essenciais para que se pudesse tornear a madeira dando-lhe a forma de aduela.
    Para emborcar a madeira que vai constituir o barril, ela era primeiramente aquecida no fogo durante pelo menos uma hora, depois uma vez aquecida, ela não se partia e permitia a aplicação de arcos metálicos para a manter bem apertada.
  Utilizando-se de todo esse conhecimento a respeito do vinho, após anos de experimentos, passando por carros de bois, carregados para diversos lugares inúmeras vezes, serviu desta forma para correcções que se prendiam com a reparação.
  Hoje em dia os processos de transporte, engarrafamento, rolhagem e rotulagem das garrafas estão modernizado e levaram á extinção da profissão. O tanoeiro hoje limita-se artesanalmente à reparação de recipientes e construção de barris decorativos, e em nada se compara com a sua verdadeira profissão.


Se queres bom vinho arrolha bem o barril.




   Quem nunca precisou tirar uma foto 3x4 urgente e procurou em alguma praça ou jardim público, um fotógrafo popular operando uma máquina mágica parecida com um velho caixote? Pode causar estranheza, mas tem sua razão de ser.
  Talvez as novas gerações das grandes cidades não conheçam o trabalho, do seu poderoso engenho, que sintetiza numa única peça as funções de câmara e laboratório solar.
   Mas a origem, histórica e papel social do profissional, é desconhecida por muita gente.
  Para evitar que a chapa com emulsão ficasse voltada para o fundo do chassis, provocando assim a perda do foco, e em consequência de nitidez, molhava-se a ponta do indicador e do polegar com saliva.
  A pressão dos dois dedos sobre um dos cantos do material sensível, evitava manchas. O lado da emulsão dava leve impressão de "colagem" no dedo.
   O bom desempenho profissional dependia de vários factores. Primeiro, a luz.
   O melhor dia era o dia de sol, e encontrar um desses fotógrafos na praça era indicação de bom tempo.
  Desde o início, a sua produção desvalorizada por estúdios fotográficos, garantiam qualidade técnica e pretensão artística.
  Ficou então tão dispersa e esquecida, que ainda hoje é difícil reunir uma colecção que esgote o universo intuitivo e criador do fotógrafo de jardim.


Para ser bom retratista é preciso ficar de olho nas nuvens.


Barbeiro é uma profissão que se entrelaça em suas origens, alimentando por muito tempo o imaginário popular.
  Almanaques mineiros discriminavam aqueles que eram apenas barbeiros e os que acumulavam as funções de barbeiro e cabeleireiro.
   Mas o trabalho não englobava só as habilidades de fazer a barba.
  Aos barbeiros, acrescia ao fato de saírem das camadas pobres da sociedade e a demanda pelo serviço dependia também da moda.
  Sobre o material de trabalho, consta que tradicionalmente utilizavam bacia de latão modelada de forma a se adaptar ao pescoço, o próprio dedo ou uma noz por dentro da boca do cliente, para melhor escanhoar. Era a barba de caroço ou barba de dedo.
  O barbeiro ambulante usava também o artifício de pedir ao freguês para fazer bochecha, facilitando, assim, o movimento da navalha.
  Com a navalha na mão, o barbeiro assinalava quão desagradável era ver um banco no meio da rua, com a cara entregue às mãos do outro que o ensaboa e barbeia, como se estivesse na sua loja.
  Por outro lado, confiar navalhas afiadas aos outros não deixava de ser arriscado. O instrumento de trabalho do barbeiro poderia transformar-se em arma.
Também corto cabelo. Espera só um bocadinho que eu vou aqui ao lado beber um copinho.


Queres uma tigela.




  O posto dos correios era no centro da cidade situado ao lado do Edifício da Câmara, hoje PT comunicações, um edifício com a fachada em redondo.
  Havia uma placa pendurada num poste perto da entrada com o cavalinho em fundo azul e “CTT” escrito a branco (Correios Telégrafos e Telefones...)
  Entrava-se para a sala onde funcionava o posto do correio. Tinha um balcão a todo o correr, uma parede coberta por um armário em madeira com os “cacifos” dos apartados particulares e dos lugares de distribuição da área, e a um lado da sala a secretária da encarregada e um cofre-forte.
  O posto dos Correios era dirigido por uma senhora, baixa, de ar frágil e uma cara oval, onde presidiam uns óculos arredondados, ancorados nos cabelos, amarrados num “puxo” atrás da cabeça, e que lhe davam um ar austero e um pouco severo...
  O correio chegava pelo primeiro comboio da manhã, á estação de Novelas num vagão especial, pintado de vermelho, dedicada aos CTT.
  Era distribuído em grandes sacos de lona cinzentos, com o carimbo dos correios imprimido a negro ou a vermelho no exterior, que eram transportados em diligência até ao centro da cidade.
  Os sacos tinham um cadeado, que era aberto com uma chave especial As pessoas conversavam, enquanto esperavam e alguns aproveitavam para fazer alguns cobres como engraxador aviando o freguês e a telegrafista aguardava o primeiro recado. Logo que chegava algum telegrama, o fazia chegar a quem de direito.


Telegrama, Telegrama.

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